domingo, 3 de agosto de 2014

Leitura: Resenha de ''A menina que não sabia ler'' de John Harding

1891. Nova Inglaterra. Em uma distante e escura mansão, onde nada é o que parece, a pequena Florence é negligenciada pelo seu tutor e tio. Guardada como um brinquedo, a menina passa seus dias perambulando pelos corredores e inventando histórias que conta a si mesma, em uma rotina tediosa e desinteressante. Até que um dia Florence encontra a biblioteca proibida da mansão. E passa a devorar os livros em segredo. Mas existem mistérios naquela casa que jamais deveriam ser revelados. Quem eram seus pais? Por que Florence sonha sempre com uma misteriosa mulher ameaçando Giles, seu irmão caçula? O que esconde a Srta. Taylor? E por que o tio a proibiu de ler? Florence precisa reunir todas as pistas possíveis e encontrar respostas que ajudem a defender seu irmão e preservar sua paixão secreta pelos livros - únicos companheiros e confidentes - antes que alguém descubra quem ousou abrir as portas do mundo literário. Ou será que tudo isso não seria somente delírios de uma jovem com muita imaginação?


 É 1891, e a menina Florence, de 12 anos, mora na casa do tio (mesmo que este não more lá) com o irmão Giles, a governanta e os empregados. O tio de Florence sempre deixou bem claro que não queria que a menina aprendesse a ler, mantendo fechada e numa área sombria da casa, a biblioteca. 
                O livro é narrado em 1ª pessoa por Florence, que já começa contando como conheceu a biblioteca e seus esforços para aprender a ler sozinha. Com isso, eu fiquei muito frustrada com o título que o livro recebeu no Brasil. Quando você pega esse livro, o que você imagina quando lê o título é que a menina não sabia ler a maior parte do livro, e que, talvez, ela usasse a imaginação, fingindo que estava lendo certa coisa no livro. Mas não há nada disso, já que Florence já sabia ler e, com o rumo que a história foi tomando, o título original (Florence and Giles) e a capa original, combinariam muito mais com a atmosfera do livro, já que a capa brasileira sugere uma história bonitinha, até mágica. Mas a verdade é que é uma história pra lá de sinistra!
                John Harding usou e abusou da atmosfera gótica, tendo seu livro comparado até com as obras de Edgar Allan Poe e, embora eu nunca tenha lido nada do Poe (infelizmente), eu sei mais ou menos como é a atmosfera de suas histórias.
                Florence é uma personagem cativante, com suas fugas à biblioteca para ler e as histórias que inventava para sempre estar indo conferir mais um livro. Qual leitor não admiraria Florence e sua determinação em ler? Eu simplesmente adorei a garota. Quando Giles tem de ir para uma escola de garotos em Nova York, Florence se sente solitária, mas logo faz amizade com Theo, um garoto um pouco mais velho que ela e que de início ela não se afeiçoou muito. 
                É quando Giles está de volta para casa que as coisas começam a ficar sombrias, já que ele não poderá voltar para a escola e deverá estudar em casa, tendo o tio que contratar uma preceptora, que morre algum tempo depois de maneira trágica e até misteriosa (não é spoiler, tá na sinopse). Com  a chegada de sua substituta, a Srta. Taylor, Florence logo vê que há algo de errado nela e desconfia da enorme dedicação que a mulher tem por Giles. 
                Como o livro é narrado por Florence, não temos ideia se tudo o que se passa é fruto de sua imaginação ou se é real, nos deixando no escuro, acreditando apenas no que a garota acredita. A Srta. Taylor é daquelas mulheres que usam apenas preto e sua maneira de agir gera grande desconfiança. Eu admito que fiquei com medo dela. 
                A Menina Que Não Sabia Ler acabou sendo um livro imprescindível, já que ele não foi nada do que eu imaginei. Apesar do ar de mistério que o autor quis passar no final, deixando a mente do leitor tirar suas próprias conclusões, acho que algumas questões que ele deixou sem resposta poderia ter sido respondidas. Mas mais uma vez acrescendo que, sendo o livro narrado por Florence, temos conhecimento apenas do que ela quer acreditar. O final foi inesperado e eu fiquei procurando por mais. Mesmo com suas 282 páginas, o livro é lento na primeira parte, mas com a chegada da Srta. Taylor, as páginas simplesmente foram passando sem que eu percebesse na segunda parte. 
                Apesar de não casar com a atmosfera do livro, a capa é linda e LeYa fez um bom trabalho gráfico – simples, mas bom para ler. Encontrei pouquíssimos erros de revisão, nada que atrapalhasse a leitura.
                Recomendo o livro para aqueles que não gostam de finais óbvios, mas daqueles que deixam um ar de mistério. Mas já advirto que haverá certa frustração se você esperar que tudo seja esclarecido.